Hoje, dia 20, o encontro de alguns dos mais atuantes e representativos músicos de choro da atualidade levará ao palco do XII Festival de Ourinhos um repertório totalmente inédito e uma panorâmica da obra contemporânea do choro, abrangendo vários ritmos que constroem a linguagem. Composições como Influente, de Cristóvão Bastos, Meu Sax sorriu, de Nailor Proveta e Maurício Carrilho, e Mensageiro, de Pedro Paes, são algumas das composições que serão interpretadas por seus próprios autores e ainda contando com a participação de Luciana Rabello, Paulo Aragão, Aquiles Moraes e Marcus Thadeu. A apresentação começa às 20h30 no Teatro Municipal Miguel Cury.
Em um papo descontraído com a equipe do jornal Balaio Cultural, Maurício Carrilho fala sobre o choro da atualidade, a Escola Portátil de Música no Rio de Janeiro, dirigida por ele e composta pelos principais músicos do gênero, herdeiros do tradicional choro carioca e também sobre as dificuldades em inserir a boa música brasileira em meios de comunicação populares, confira:
Qual a diferença do choro produzido antigamente, anos 40 e 50, para o choro contemporâneo? Como é aceitação do público atual?
Os anos 40 representam um marco para a forma clássica do choro. Tivemos as gravações de Benedito Lacerda e seu Regional com Pixinguinha que são, até hoje, referência para quem se interessa por esse gênero. Nos anos 50 o choro viveu um momento muito rico de renovação de sua estrutura harmônica e melódica, com o trabalho de Garoto, Radamés Gnattali, Moacir Santos, Altamiro Carrilho.
Hoje temos outras gerações em atividade. Depois de um período de grande dificuldade, vivido entre a segunda metade dos anos 80 até o início dos anos 2000, o choro vive um dos períodos mais promissores de sua história centenária. Observamos o surgimento de músicos extraordinários além do avanço na produção de instrumentos de qualidade, organização de material didático, levantamento de repertório e discografia dos grandes mestres e uma produção contínua, numerosa e de ótima qualidade por parte de vários compositores. Melódica e harmonicamente o choro evoluiu muito nos últimos anos. Mas acho que isso só será percebido pelas pessoas daqui a uns dez, vinte anos. Infelizmente ainda há uma grande dificuldade em se fazer uso democrático dos meios de comunicação no Brasil. Existe um sistema
corrompido e viciado que se alimenta da ausência de conhecimento e senso crítico para veiculação de "produtos culturais" sem nenhum conteúdo, deixando de lado o que é produzido de melhor em nossa música.
A Escola Portártil de Música é um dos principais núcleos do choro carioca. Como é esse ambiente de estudo que reúne jovens músicos no Rio de Janeiro?
A Escola Portátil de Música é um projeto que existe há 12 anos. Oferece a oportunidade de estudo prático e teórico da linguagem do choro. Contamos com mais de 1000 alunos inscritos regularmente em 2012, além de vários estudantes de fora do Rio que frequentam aulas avulsas. Acho que além de formar músicos, platéia de qualidade e transformar a cena musical carioca, a EPM deu aos jovens músicos estudantes de choro consciência da importância desta música, elevando sua auto-estima, seu orgulho em tocar Música Brasileira. Isso está fazendo muita diferença.
Como é o interesse dos músicos de outros países pela linguagem do choro? Existem projetos que possibilitem esse intercâmbio musical?
Outros projetos e escolas têm contribuído para o estudo de várias linguagens musicais, e mesmo do choro em particular. Te respondo de Toulouse, na França, onde estou participando, ao lado de dois professores da Escola Portátil de Música (Jayme Vignoli e Naomi Kumamoto), do 5º Encontro de Choro de Toulouse. Organizado pela Casa do Choro de Toulouse, este encontro contou com a participação de 60 alunos, músicos de choro vindos de várias cidades da França e de outros países europeus. Esta realidade é nova e mostra o interesse crescente pelo choro em vários países. O resultado do encontro foi muito bom e mostrou o progresso que jovens músicos franceses têm feito no choro.
Maurício Carrilho é o músico convidado do 12º Festival
As homenagens a Pixinguinha e Maurício Carrilho no XII Festival de
Música colocam o gênero do choro em evidência 2012. Se coube a
Pixinguinha a tarefa de revelar o suingue e brasilidade de nossa música,
Maurício ficou com a missão de consolidar esse trabalho. Sua atuação
como violonista (de 6 e 7 cordas) e arranjador é reverenciada desde a
estreia, no disco “Os carioquinhas no choro”.
Estudou com Meira, professor de Baden e Rafael Rabello. Segundo Hermínio
Bello de Carvalho, Maurício é “discípulo natural de Radamés Gnatalli,
de quem herdou o refinamento musical, o talento de esculpir um arranjo
moderno e com sotaque brasileiro – e por isso mesmo universal”.
Seu trabalho como pesquisador teve como foco a obra de compositores
nascidos entre 1850 e 1880, e resultou em duas coleções fonográficas
fundamentais para o entendimento da história da música popular no
Brasil: Princípios do Choro (15 CDs, lançada em 2002) e Choro Carioca:
Música do Brasil (9 CDs, lançada em 2006).
Atua em diversas formações instrumentais, e fundou com Luciana Rabello e
João Carino a Acari Records, a primeira e única gravadora especializada
em choro. Lançou por esse selo seu primeiro CD solo, intitulado
Mauricio Carrilho. Em 2004 lançou outro disco só de composições
próprias, Sexteto + 2, ao lado do Sexteto Mauricio Carrilho. Em 2007
veio Choro Ímpar, trabalho inovador só com composições feitas em
compassos ímpares. Em 2005 impôs-se um desafio digno de poucos artistas:
compor uma música por dia, durante um ano. Criou assim o Anuário do
Choro, com centenas de choros, polcas, maxixes, valsas, schottischs etc.
Em 2009 repetiu a dose, criando mais um anuário. Sua produção de
compositor, só nos anos de 2005 e 2009, somou 810 músicas.
É fundador, coordenador e professor da Escola Portátil de Música,
projeto de educação musical através da linguagem do choro. Atualmente a
escola tem 28 professores e atende cerca de 850 alunos. Mauricio é
presidente do Instituto Casa do Choro, instituição responsável pela
Escola Portátil e que tem como principal objetivo o registro e a
preservação de acervos e da memória da música popular carioca, em
especial o choro.
Hermínio Bello de Carvalho em Sessão Passatempo, fala sobre Maurício
Carrilho: “Não abro mão de sua criatividade, de seu violão perfeito, de
sua estética moderna e profundamente brasileira nos trabalhos que faço.
Pago esse preço com satisfação, até porque acredito no que o diretor
Túlio Feliciano me contou: que já o viu, em pleno ensaio, aureolado por
um halo divino, num daqueles momentos em que recebe essa entidade
chamada música, que o ama com o mais absoluto fervor”.
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