23 de jul. de 2009

Julio Medaglia e o artesanato vibrante da Orquestra

Texto: Valdir Grandini (Dentinho)
Foto: Marco Aurélio Gomes

Assistir ao concerto da Osesp é inesquecível, como foi tão repetido por quem esteve no Estádio do Ourinhense na abertura do IX Festival de Música. Mas interessante mesmo é acompanhar o curso de Prática de Orquestra, ministrado pelo maestro Júlio Medaglia no Centro Cultural Tom Jobim, e ver como se consegue fazer músicos funcionarem como orquestra.

Cerca de 50 alunos fazem o curso e dificilmente alguém ultrapassa a faixa de 20 anos, sendo que pelo menos 40 deles mal passam de 18 anos. São um ajuntamento típico do Brasil, com negros, loiros, morenos, de cabelos lisos, cacheados e encaracolados, mas tendo em comum os olhos pregados no maestro e sorrateiramente, rápidos como relâmpagos, consultando as partituras.

A maioria são violinistas. Quando se trata de violino, normalmente o aprendizado começa muito cedo. Mesmo jovens, muitos caminharam bons anos até chegarem ali, diante do maestro consagrado. Só que o tempo de caminhada não torna fácil estar ali. Ninguém é paparicado e todos são muito exigidos. “Ou vocês não me entendem ou não sei o que está acontecendo”, dispara o regente, pedindo pulsação na execução da musica. “Orquestra jovem não pode ser frouxa assim”, sentencia.

Os alunos procuram intensamente nos olhos e gestos do maestro a energia desejada e imediatamente depois da bronca o som sai diferente. A aula-ensaio vai prosseguindo. “Deus nos ajude agora!”, bronqueia Medaglia, como se pedir mais e pedir um milagre fossem a mesma coisa. Mas as aparências enganam terrivelmente, pois não se trata de um professor autoritário e sim de um músico querendo que sua regência funcione. Numa orquestra, não basta que os integrantes saibam tocar. É preciso que vibrem em sintonia. Isso significa que precisam parecer monges em meditação num segundo e no outro disparar como corredores de 100 metros rasos, todos ao mesmo tempo.

Quem assiste a aula pensa estar diante de uma orquestra jovem, mas o maestro parece ouvi-los como se fossem um bando, identificando toda e qualquer falta de sintonia, venha da esquerda ou da direita, da sua frente ou do fundo do auditório. Para ele, ensaiar é como se repetir mil vezes fosse jamais repetir. “Agora é preciso subir o som, de súbito. Pensem na namorada...” E lá vai a pressão arterial da música, às alturas. “Vocês subiram antes do tempo. É a vontade de chegar ao orgasmo”, corrige Medaglia. Para resultados impressionantes, imagens fortes.

Vendo a aula, sentimos que tem um demônio nos olhos e gestos do Maestro, que volta e meia vira uma alma leve. Ou um falcão que flutua alto e de repente ataca. Ou uma cobra que hipnotiza e dá o bote. É animal...

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