O que faz uma pessoa – uma rústica vida de tempo breve – decidir ser música? A resposta não é uma só, já que cada pessoa é única. Mas as respostas interessam menos que a pergunta. A pergunta nasceu neste domingo, 15 de julho de 2012, durante o show de Antônio Nóbrega que abriu o XII Festival de Música de Ourinhos. O fato é que no palco montado na Praça Mello Peixoto, o que se via era um corpo musicalizado: dono do ritmo, da poesia e da dança.
Corpo musicalizado é um termo que parece bom, porque é difícil saber se o corpo é levado pela música, navegando nas ondas, ou se de tal forma apropriou-se de sua matéria prima - os ritmos e danças da cultura brasileira – que aprendeu a domar a lei da gravidade.
Antônio Nóbrega passeou pelos ritmos. Frevo, maracatu, baião, choro, samba. Passeou pelos instrumentos: violino, rabeca, bandolim, guitarra. Dançou no palco. Dançou sobre as caixas de som. Dançou junto ao público. Dançou com o público. Dançou como ator em cena. Dançou as danças populares com experimentação contemporânea. Dançou leve como sopro.
Ele fez tudo aquilo parecer fácil. Mas não é não. Quem estava no palco era um incansável pesquisador da dança e da música brasileira, também poeta e compositor. Um desses artistas amplos, porque bebe de uma fonte onde a música, o canto e a dança não se separam: a cultura popular. Só a cultura popular é festa carnavalesca, colorida, que não separa palco e público. Por isso Nóbrega mistura tudo tão bem: sua fonte ensina a não separar. É isso que fez o público dançar, cair na risada, cair na ciranda e pedir bis. Inebriar-se. O que faz uma pessoa decidir ser música? Seria ser filho e pai da cultura popular?
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