8 de mai. de 2012

Texto de Kafka abre a 4ª Mostra Sérgio Nunes de Teatro

A 4ª edição da mostra Sérgio Nunes de Artes Cênicas começa dia 24, quinta, com a peça Comunicação a uma academia. Baseada em conto de Franz Kafka, a montagem conta a história de um macaco que se transformou em humano. O macaco relata para uma plateia de acadêmicos e estudiosos como gradativamente abandonou sua animalidade e passou a imitar os homens. A partir das 20h30 no Teatro Municipal Miguel Cury. A entrada custa R$ 3,00.

Em Comunicação a uma Academia, o macaco, interpretado por Juliana Galdino, fala sobre o processo de transformação por meio do qual aprendeu a se comportar como um homem. Reflete e compara sua condição animalesca anterior com a atual humanidade conquistada – hesita, se contradiz, torna-se agressivo, sarcástico, niilista, arrogante, frágil, perplexo. Tornou-se outra coisa – foi forçado a fazê-lo, morreria se permanecesse ele mesmo, precisava tornar-se como os que o espreitavam do lado de fora da jaula. Agora não está mais preso – mas percebe que tampouco está livre. Afinal, tornou-se um homem, e aos homens (ele descobre) não cabe a liberdade.

Comunicação a uma Academia desenha o processo pelo qual alguém se torna humano. Isto é, o processo que leva um indivíduo (ou mesmo todo um povo) a abraçar voluntariamente uma ideia hegemônica relativa ao que é ser um ser humano, sob o risco de exclusão da comunidade global. Metáfora terrível de toda forma de condicionamento, colonialismo, adestramento e aculturação, o texto de Franz Kafka suscita a reflexão a respeito de questões urgentes e graves da era globalizada.

A encenação é minimalista. O palco, praticamente vazio de objetos, está repleto das palavras da “criatura”. “Conforme a pesquisa da companhia, o trabalho é pautado na imobilidade dos atores, em movimentos mínimos (mas significativos), numa luz fria e crepuscular e no emprego musical da fala, alternando ritmos, sensações e sobreposições”, conta o diretor Roberto Alvim.

Alvim, que assina também cenário, iluminação, figurinos e trilha sonora, criou um ambiente frio, asséptico, claustrofóbico. “As paredes do cenário são forradas por placas de mármore verde-musgo, com uma grande cabeça de leão empalhada no alto. Nesse lugar, separado da platéia por uma corda de isolamento, o macaco fala, e sua palestra ocorre sob a tensão constante oriunda da presença vigilante de um guarda armado com um rifle”, explica.

A encenação de Comunicação a uma Academia destoa da proposta inicial da companhia Club Noir, que era produzir exclusivamente peças de autores contemporâneos. “Isso se deu devido ao encontro do grupo com a obra e as questões nela presentes. A síntese altamente dramática elaborada por Kafka tornou o texto incontornável para nós”, comenta o diretor. “Sua pertinência e atemporalidade tornam seu diálogo com o público de hoje tão potente quanto aquele estabelecido pelas melhores obras produzidas na contemporaneidade.” completa. A classificação indicativa deste espetáculo é 16 anos.

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