14 de jul. de 2010

Noel Rosa é o músico homenageado pelo Festival em 2010

“Noel viveu poucos anos e muita vida. Que, como sua obra, é no mínimo, desconcertante. Dentro de seu tempo e da própria cultura brasileira, ele é um fenômeno de pioneirismo, talento e capacidade de produção”. Assim resume João Antonio em “Noel Rosa, Literatura comentada” no capítulo que trata da biografia do músico homenageado este ano pelo Festival de Música de Ourinhos.
Apesar das muitas homenagens que pipocam pelo país comemorando o centenário de Noel, sua obra ainda é pouco popular. Em Ourinhos as iniciativas para tornar sua música mais conhecida começaram com uma parceria entre as secretarias municipais de Cultura e Educação, que resultou em trabalhos feitos por alunos, e muitos momentos de audição de músicas de Noel nas escolas.
A homenagem prestada pelo Festival também estará presente em exposições que podem ser vistas no Teatro Municipal e no Centro Cultural no mês de julho. Além disso, a obra de Noel estará no repertório de Fabiana Cozza, que faz show no Teatro no dia 20; e no show “Noel, Vadico e o Choro”, que acontece também no Teatro, dia 22, quinta-feira.  O grupo Soarte também presta homenagem ao músico-poeta com o espetáculo de teatro “Noel, o feitiço da Vila”, no domingo, dia 25, na atividade que vai encerrar o Festival este ano. 
Noel compôs 228 músicas em seus 26 anos de vida, comprovando sua grande capacidade de produção. Mas o que impressiona é a qualidade da obra, quando se analisa a riqueza musical e poética. Uma rápida pesquisa sobre a vida do músico carioca e percebe-se o quanto foi sofrida, marcada pelo parto traumático que quebrou seu maxilar, provocando uma deformação facial e uma série de problemas de saúde. Mesmo assim, viveu com coragem e plenitude suas experiências. Filho de família de classe média abandonou o curso de medicina para se dedicar à música.
Identificado com o samba e o ambiente do morro, conheceu de perto os cabarés e os artistas do povo. Vivendo com dificuldades financeiras e constantes problemas de saúde, sua obra, no entanto, tem inúmeros toques de humor, assim como  crítica aos costumes, à política ou aos defeitos humanos. Em “Filosofia”, composta em 1933 em parceria com André Filho, Noel dispara sua ácida ironia; “Quanto a você da aristocracia/Que tem dinheiro, mas não compra alegria/ Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente/Que cultiva a hipocrisia... 
Noel não se esquivou de amar e muito, e sua obra é repleta de referências líricas e referência a sentimentos como ciúmes, traição e desconfiança, cantados por artistas da época. Aracy de Almeida foi uma de suas principais intérpretes, mas muitos outros cantores gravaram Noel. Desta forma, através do rádio, a vida e o samba dos morros cariocas foi sendo conhecida por toda a cidade do Rio de Janeiro da década de 1930.
Um de seus parceiros mais constantes foi o paulista Oswaldo Gogliano, o Vadico (foto), que também estaria completando cem anos este ano. Foram parceiros em "Feitio de Oração","Feitiço da Vila", "Pra que Mentir", "Conversa de Botequim", "Cem Mil Réis", "Provei", "Tarzã, o Filho do Alfaiate", "Mais um Samba Popular", "Quantos Beijos" e "Só Pode Ser Você". A obra do músico paulista não é tão reverenciada como a do carioca Noel, pois viveu anos nos Estados Unidos, onde trabalhou com Carmem Miranda e o Bando da Lua. Em 1943, a convite de Walt Disney, musicou o desenho animado "Saludos, Amigos", que apresentou o papagaio Zé Carioca como símbolo do Brasil.
Os alunos das escolas da rede municipal de Ourinhos conheceram um pouco da obra de Noel em atividades desenvolvidas durante o primeiro semestre. Na memória desses jovens ainda ecoa o Adeus de Noel: “Adeus! Adeus! Adeus!/Palavra que faz chorar/Não há quem possa suportar/Pra que foste embora?/Por ti, tudo chora!..”

Além de  Noel e Vadico, Adoniram Barbosa também completaria 100 anos

Além de Noel e Vadico, outro compositor completaria cem anos em 2010: Adoniram Barbosa, cujo nome verdadeiro era João Rubinato. Nascido em Valinhos, Adoniram é dono de uma obra bastante conhecida na qual, assim como fez Noel, retrata o ambiente em que vive com humor e lirismo. Quem não conhece “Saudosa maloca”, “Trem das onze” ou “Iracema”? Em sua obra transparece a vida dos paulistanos, especialmente os descendentes de italianos. Adoniram tirou do cotidiano a idéia e os personagens de suas músicas. Com seu jeito simples e sua voz rouca com grande talento para contar histórias, Adoniram conquistou muitos amigos e deixa um legado muito importante para a música popular brasileira. Os cariocas o reverenciam como o criador daquilo que classificam como o samba paulista. 

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